Ordenação sacerdotal de Dom Tomás de Aquino

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Recomendações sobre as boas leituras

      “Por conseguinte, em geral, julgue-se que devem se evitar todos os livros e escritos, ainda que estes sejam folhas ou periódicos pequenos, nos quais são louvados com epítetos honoríficos os inimigos da Igreja e os aborrecedores da liberdade cristã; igualmente os escritos que cheiram a superstição ou paganismo; os que destroem a fama dos próximos, principalmente dos eclesiásticos e príncipes, e são contrários aos bons costumes e à disciplina cristã; os que estão contra a liberdade, imunidade e jurisdição eclesiástica; os que contém exemplos e sentenças, narrações ou ficções que ferem e violam os ritos eclesiásticos; e principalmente os que propagam o que se chama o volterianismo, ou o desprezo ou irrisão, ou ao menos o indiferentismo pelo que se refere à religião e à inteireza dos costumes” (Concílio Plenário da América Latina, art. 130).

      Não esqueçamos do critério e norma interior de Santo Inácio de Loyola. Para proscrever um livro de Erasmo não precisou de outra coisa que notar que se lhe diminuía a devoção com sua leitura. Se, pois, não só lhe diminui ao leitor a devoção, senão que vai se aficionado ao mundo, perdendo o horror ao pecado, à desonestidade, vendo-a como coisa inevitável; tendo ao duelo por ato nobre, ao suicídio por obra de grande valor; vai se decaindo em seu ânimo o respeito e amor à Igreja e aos seus ministros; se começa a vacilar em seu entendimento as ideias mais assentadas; se seu critério, até agora católico, se quebra; se sua fé e simples adaptação ao dogma, aos costumes antigos e tradicionais se ressentem, que mais sinais quer para conhecer a maldade de tais leituras?

      Além disso, tenha-se em conta estas reflexões:
     
Quem se contenta em somente evitar o proibido e não aspire ao melhor, facilmente cairá no proibido. Por isso, ler livros sem atender mais que a que não estejam proibidos, é frequentemente causa de chegar a ler ainda os proibidos.

      A leitura imoderada de obras que dão rédeas desordenadas à imaginação (v.g.: novelas, contos), mesmo quando em si mesmas não tenham ocasião atual de pecado, predispõe em prazo mais ou menos longo à debilidade espiritual que prepara às quedas. Quem vive em um mundo irreal e sentimental, facilmente não tem o vigor de vontade indispensável, junto com a graça e o temor de Deus, para vencer as dificuldades, perigos e tentações da existência humana. E às vezes se perde um tempo preciosíssimo em ler bagatelas...

      É uma conclusão muito falsa a seguinte, que se ouve às vezes: “Se tal livro não está proibido — nem expressamente no Índice, nem nas regras gerais, nem pela lei natural (porque é perigoso para mim) —, posso lê-lo sem cometer pecado”; mas... talvez não o possa fazer sem gastar mal o tempo e o dinheiro, sem desperdiçar minha imaginação, sem dar escândalo a outros que me veem entregado à sua leitura.

      Dizem muitos tratando principalmente das novelas: “Esta novela não tem nada de mau, porque não há nela descrições obscenas”. É critério falso, pois ainda pode ser sensual, voluptuosa, de muita paixão, deletéria, de espírito mundano, irreverente, irreligiosa, exaltar o duelo e ter outras mil malícias. Assim, alguns exclamam: Os Miseráveis, de Victor Hugo, não têm nada, e mesmo assim está incluída no Índice. E com muitíssima razão, pois entre outras malícias, acrescenta a de ser uma epopeia do socialismo libertário.

      Nada mais comum em certos críticos que dar por morais todas as novelas que têm um fim moral. Ainda assim, este critério é equívoco, pois não basta que o fim seja bom se os meios são maus; e são inumeráveis as novelas gravemente perigosas e ainda de ensinamentos imorais que têm um fim moral. Mesmo que seja verdade que esse mesmo fim costuma ser bem minguado, aspirando nada mais que a que não sejamos assassinos ou parricidas, permitindo-nos, entretanto, os demais pecados.

      Outros dizem: “É preciso conhecer tudo, saber o bem e o mal, para escolher o bem”. Este critério perdeu a nossos primeiros pais, e é o da serpente infernal. Quem não vê o absurdo deste critério? Quem para conhecer o medicamento que faz bem ao seu estômago mete nele todas as drogas de uma farmácia, inclusive os venenos? Aquele que queira saber bem as verdades referentes à fé e bons costumes, não as tem todas limpamente explicadas nos livros escritos para este fim? Aquele que diz que deseja aprender História, agirá com prudência em ir estudá-la nas novelas pseudo-históricas de Dumas, de onde não se pode conhecer nem uma verdade que não esteja envolta em mil mentiras? Por outro lado, não há livros mais a propósito para inocular as más ideias e perverter o sentido moral que as novelas. Nelas se mostra o erro com todas as aparências da verdade. Será descoberto por qualquer um? Nelas se combate muitas vezes a religião, se defende o duelo com tais sofismas, tão enganosos, tão artificiosamente dispostos, que não sem trabalho os desmascaram homens de estudos sólidos. E queremos que não surpreendam e envolvam em suas redes a homens, sejam de poucos ou muitos alcances, que não sabem de religião nem sequer o mais diminuto catecismo? Uma novela em que ao vivo se descrevem as coisas mais obscenas, servirá para escolher o bem? Não causará nenhuma impressão nem nos jovens nem nos homens de paixões desordenadas? Nada mais comum nas novenas que encarnar os vícios e as mais criminosas ideias em personagens que fazem tudo amavelmente. Com tal escola e tais mestres, que se escolherá pelos pobres filhos de Adão? O que escolheu a escola da serpente primeiro Eva e depois Adão.

      “Em mim não fazem dano, eu já conheço essas coisas, nada me impressiona. Se se tratasse de crianças que não abriram os olhos...” Primeiramente, se se trata de livros proibidos pela Igreja, mesmo que fosse verdade que a nós não nos causariam dano, não os poderíamos ler, porque a lei eclesiástica, para evitar alucinações, proíbe os livros a todos, sem distinção, tenham ou não tenham perigo.

      Mas, em segundo lugar, não é verdade que não causam danos os maus livros aos que isso dizem; pois se se trata o assunto na ordem das ideias, esse mesmo modo de falar demonstra a má maneira de pensar que de tais leituras têm adquirido. Por outro lado, se se lhes examina, vê-se em seguida que pensam exatamente como os tais livros maus, mesmo nos erros mais escandalosos. Pensam que a desonestidade, o duelo e ainda o mesmo suicídio são coisas lícitas, necessárias e quem em certas circunstâncias até revestem um caráter de elevação e nobreza.

      Em terceiro lugar, essas leituras que dizem não os impressionar, os confirmam cada vez mais em sua vida dissoluta e modo absurdo de pensar.

      Em quarto lugar, a outros a quem não lhes fazem pecar no ato as más ideias, os vão dispondo a cair mais adiante, armazenando em suas cabeças tantas espécies perigosas e ditames contrários à sã moral, que em momentos de paixão, de perigo e ocasião produzem seu efeito, empurrando-os ao pecado.


Antonio Garmendia de Otaola, S. J., "Lecturas Buenas y Malas a la luz del dogma y de la moral".

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